quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Entre uma pauta e outra no plantão

O período das últimas horas é bem interessante para entender o fechamento de um jornal.
A redação, ainda com um número considerável de funcionários, observa as últimas decisões editoriais e começa a escutar o som produzido pelas máquinas da gráfica.
As rotativas, cansadas pelo dia anterior, misturam as tintas aos papeis em uma velocidade tão impressionante que torna-se impossível olhar a imensidão de jornais como algo formado por elementos separados.
Ansiosamente, a gente corre pra olhar as manchetes, os textos e as fotos que serão devoradas junto aos pães e cafés durante a manhã.
PS. A lua deixou rastros no meu plantão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Entre uma pauta e outra

Entre os dedos!

Imbuí em Chamas








Correndo na cidade atrás das pautas, meu celular toca, "Tem uma fumaça proximo ao Iguatemi. Vê o que é isso, não consegui fazer", alertava Parracho, fotografo do jornal, imaginando um possível "furo". Imediatamente direcionei minha conversa à Renato, motorista daquele momento, e perguntei onde seria a tal cortina que deixava a colorida Salvador em tons de cinza. O companheiro das curvas e das conversas regadas ao som do rádio, se apressou em achar o lugar. Correu pra cá, parou ali, perguntou onde era possível entrar, resumindo, se desdobrou pela matéria.
Depois de fotografar o incêndio, que queimou apenas dois barracos sem nenhum ferido, entrei no carro e respirei aliviado. " Você tá fedendo", brincou renato, que se manteve ali esperando-me a todo momento. Olhei para a figura, que segurava firme o volante, e percebi o quanto ele era fundamental no dia a dia de um jornal.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Entre uma pauta e outra


Dormindo com a certeza de que o abrigo não sai do lugar!

Enterro de Andressa




Miserável, Canalha e estúpido seriam adjetivos pequenos para definir quem eu era naquele momento. Com olho direcionado para o choro quase que interminável da mãe, meu dedo congelava as lágrimas que rolavam no rosto vermelho daquela mulher. Ao observar o corpo da filha de dez anos sendo guardada em mais uma gaveta daquele cemitério inundado de nomes e datas, Fabiana Alves, gritou. “Não deixem. Eu não vou aguentar”, bradava firmemente se jogando na lápide da pequena Andressa.


Enquanto meu olho direito observava tudo o que transcorria em minha frente, meu olho esquerdo, fechado, não enxergava nada além da escuridão. o rosto, protegido pela câmera, sentiu a pancada da mão que vinha lateralmente sem pena. “Oh velho, tá bom de tirar foto. Num ta vendo que ela tá ruim?”, indagava algum parente indignado com minha presença.


Estava apenas trabalhando. Cobrindo mais um assassinato infeliz que amedrontava mais uma vez a cidade, que se cala diante de tamanha violência. Talvez aquele registro daria voz para aqueles personagens ou apenas ajudaria na venda de mais jornais.

sábado, 6 de novembro de 2010

Capa de hoje




Hoje saiu uma foto legal de uma matéria considerável tranquila na capa, porém não gostei muita da cor na impressão. No papel de Jornal é necessário deixar mais claro pra sair visível. No entanto gostei da escolha pelo tom dramático da luz.
Estava conversando esses dias com Marco Aurélio Martins, fotografo das antigas aqui do jornal, sobre isso. Segundo ele, eu estava sendo otimista ao colocar que fazemos 80% de matérias tranquilas, as que não são "hardnews".
A gente tem uma visão muito romantica do fotojornalismo. Essa profissão é associada sempre a adrenalina, no entanto isso não acontece sempre. Porém, quando acontece, a gente fica feliz da vida! Um Salve para aqueles que conseguem transformar suas pautas em verdadeiras pautas.




sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mais uma vez no Bomfim












Sentei ao lado de seu Valmir e conversei. O sorriso do senhor que trabalha há mais de 20 anos em frente a igreja do Bomfim vendendo fitas, conchas e adereços conquista qualquer um. As pernas amputadas não eram motivo para se desanimar. O sorriso é largo, farto e se esconde atrás das fitinhas coloridas e tradicionais da Bahia. O homem, com seus olhos embotados de um silêncio sábio,tinha me dado, anteriormente no mesmo local, uma fitinha branca que amarrei em meu “bomb” (bolsa-colete que serve para guardar as lentes, flashs e outras tranqueiras).

Aproveitei também a espera da pauta para fazer alguns pedidos. É costume de quem visita a famosa igreja amarrar uma fitinha na grade e destinar um pedido pra cada nó. Amarrei duas fitinhas, uma azul e uma verde. Dei os meus nós e depois fiz mais três enquanto ouvia no celular os pedidos vindo de uma voz doce de Maceió.




quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Pauta: Criança sobrevive a tentativa de envenenamento do pai


Sabe aqueles dias tensos onde todas as pautas cheiram a dor? A rotina de trabalho é um pouco dura, você vive o tempo todo com os contrastes que a cidade cria. Nesse dia já tinha feito fotos de um jovem que tinha sido baleado no bairro de São Caetano, mas a gente tem que engolir seco e seguir em frente. A foto seria em um local longe, quase saindo da cidade de Salvador. Uma "Quebrada" mesmo! O carro do jornal nem chegou a casa da família.
Quando cheguei na casa, a avó da criança me recebeu com um sorriso de orelha a orelha, porém estava triste com o que tinha acontecido com o neto. "É duro meu filho", lamentava a avó.
Jussandra, a mãe do menino, estava no quarto ainda passando maquiagem. Em uma hora como essa passa tanta coisa na cabeça... A mãe deveria ter o semblante triste? A sombra e o gloos que estava passando faria alguma diferença na foto? o que isso significava para o leitor depois? Bom, depois de ter conhecido a mãe e o bebê tinha que achar um local legal para fazer a foto. Nessas horas o fotojornalismo interage sempre com a estética, pois, precisava fazer a foto mostrando a mãe com a criança, porém não poderia mostrar o rosto. Percebi uma feixe de luz que entrava pela janela do quarto do bebê. era o local certo pra fazer a imagem. Posicionei a mãe e quando menos esperei o bebê colocou a mão na boca da mãe. Ao chegar na redação lembrei de uma imagem da mulher nigerianda sendo calada pela mão de seu filho que entrou para a história da fotografia, e foi premiada em 2005 pelo World Press Photo. A foto é de Finbarr O'Reill.

O primeiro dia eo calor de Salvador

















Meus passos estavam em conformidade com o asfalto frio daquela manhã de domingo. Enquanto caminhava para meu primeiro trabalho no jornal, meus olhos observavam a organização daquela cidade que se preparava para mais um dia de eleição. Os cartazes, cheios de números e frases de efeito, pareciam um mosaico colorido e me concentravam ainda mais na tarefa que realizaria logo mais.
A redação ainda estava vazia. Um mar de computadores à espera dos dedos ritmados que contavam o que acontecia lá fora. Ansioso, aguardava meu roteiro e o repórter que me acompanharia no passeio à cidade de Cravo Neto.
Meus braços vibraram ao receber a pauta em um papel rasgado a mão e fiquei feliz ao saber que a repórter que me acompanharia carregava o próprio nome da Bahia. Andamos pelos colégios abarrotados de pessoas, santinhos e vendedores ambulantes. Nada mal para um primeiro dia. Procurei os ângulos mais diferentes para contar aquela história, mas ainda me sentia em ritmo lento.
Depois das visitas aos colégios e personagens, decidimos voltar para redação. Não estava satisfeito. No caminho de volta percebi uma fumaça escura saindo dos prédios na área do comércio . Segundo o motorista era apenas o moinho Bahia, porém a gente deve ficar sempre atento... o fato pode acontecer na nossa frente e se não tomarmos cuidado passa despercebido. Um prédio histórico queimava no comércio...





quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pauta: Palácio da Aclamação




Me encontrei com a Içara, reporter de texto, para fazer uma matéria sobre esse tal Palácio da Aclamação. Que por sinal é muito bonito! Cristiano Marinho nos guiou pelas salas e quartos do local que abrigou diversos Governadores do estado da Bahia.

Nessa pauta poderia ter usado um tripé, uma lente mais aberta e outras coisas necessárias para se fazer foto de arquitetura. A vida de um fotógrafo de jornal é medida pelo tempo também. Paciência!

Pauta: Rodrigo Gral, jogador do Bahia, faz doação para Casa de Ajuda à criança com Câncer



Estou pegando aqui no jornal às 14h, porém cheguei um pouco mais cedo. Estava refletindo sobre a tal da concentração que um fotógrafo precisa ter antes de trabalhar.

A ideia de reservar um tempo antes de cada pauta para meu equilibrio interior, por incrivel que pareça, foi percebida com um fotógrafo "elétrico" aqui do trabalho. Estavamos, eu, Lucio (o elétrico) e o motorista, indo fazer um jogo no Barradão (estádio do Vitória), e comentei que estava com muita fome. " SE CONCENTRA VEI", veio a voz seca do banco do passageiro ao lado do motorista. Na mesma hora senti um embrulho no estômago. Não destinava um tempo para a concentração antes de meus recortes imagéticos.

Bom, sai correndo da redação com algumas pautas definidas, mas as coisas mudam. Normal! Tive que fazer uma pauta sobre a visita de um jogador do tricolor Baiano à um Lar de apoio a crianças com Câncer.

Me senti um pouco anestesiado. A linha que separa a vontade de ajudar e a vontade de alimentar o ego é muito tênue. Mas a alegria presente naquelas crianças é incodicional ao estado humano.

Pauta: Pontos turísticos de Salvador




Ontem me passaram uma pauta que rendeu umas fotos bacanas dos famosos pontos turisticos de Salvador. Como estamos chegando próximo ao verão, a cidade colorida começa a se arrumar para chegada dos visitantes.
Foi bom pra repetir o que já fizeram e tentar alguns angulos novos. A fotografia é isso mesmo. A gente aprende repetindo os que os outros fizeram e constroi um novo olhar.