terça-feira, 16 de novembro de 2010

Enterro de Andressa




Miserável, Canalha e estúpido seriam adjetivos pequenos para definir quem eu era naquele momento. Com olho direcionado para o choro quase que interminável da mãe, meu dedo congelava as lágrimas que rolavam no rosto vermelho daquela mulher. Ao observar o corpo da filha de dez anos sendo guardada em mais uma gaveta daquele cemitério inundado de nomes e datas, Fabiana Alves, gritou. “Não deixem. Eu não vou aguentar”, bradava firmemente se jogando na lápide da pequena Andressa.


Enquanto meu olho direito observava tudo o que transcorria em minha frente, meu olho esquerdo, fechado, não enxergava nada além da escuridão. o rosto, protegido pela câmera, sentiu a pancada da mão que vinha lateralmente sem pena. “Oh velho, tá bom de tirar foto. Num ta vendo que ela tá ruim?”, indagava algum parente indignado com minha presença.


Estava apenas trabalhando. Cobrindo mais um assassinato infeliz que amedrontava mais uma vez a cidade, que se cala diante de tamanha violência. Talvez aquele registro daria voz para aqueles personagens ou apenas ajudaria na venda de mais jornais.

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